sábado, 26 de maio de 2012

"Hoje é o CQC. Amanhã pode ser qualquer um", diz Marcelo Tas

Mesmo indo dormir com o dia quase amanhecendo de uma segunda para terça-feira, Marcelo Tas não consegue ficar até muito tarde na cama e acorda cedo como se tivesse trabalhado em um “horário normal”.  Porém, nas noites de segunda-feira seu expediente na Band avança madrugada adentro. Da TV, o “CQC” vai para a internet em sua versão 3.0 e Tas, apresentador do programa, vai junto.

Poderia ser uma terça comum, se na noite anterior Tas não tivesse respondido ao vivo sobre as polêmicas envolvendo sua equipe. A primeira "resposta" foi na edição de 23 de abril, mas não parou por aí. No programa de 14 de maio, o apresentador falou novamente sobre os "CQCs".

“Um trabalho degradante é de um jornalista [Felipe Andreoli] que faz uma pergunta e leva um tapa na cara. [...]. Há três semanas outro repórter [Mauricio Meirelles] foi à coletiva da Hillary Clinton com um pequeno gracejo, uma máscara de carnaval, [...] e o sindicato de jornalistas de Brasília tentou limitar nossa ação em eventos oficiais. E agora, um deputado bate no repórter do CQC. Cadê o sindicato dos jornalistas?”, desabafou - e sem perder o bom humor.

Oscar Filho, Marcelo Tas e Marco Luque no CQC 3.0 logo após o programa - Divulgação/BAND

Perguntas sem resposta

Pouco após o desabafo, Tas chamou reportagem em que Meirelles tentou questionar o envolvimento de um vereador de Curitiba no desvio de 35 milhões, favorecimento de licitações, entre outras coisas, mas não teve a chance. “O cara falou que não ia dar entrevista porque a gente não é sério. Espera aí, cara pálida, quem é que está brincando com isso aqui tudo?”, questionava Tas à IMPRENSA na manhã seguinte.

A cena do "cara pálida" ilustra como a Band apresenta em seu site um dos programas de maior audiência da casa. “De microfone em punho e munidos de uma cara de pau acima da média os homens e a mulher de preto têm uma prioridade: perguntar o que ninguém tem coragem.

Com a 5ª temporada no ar, o "CQC" começa a causar certo incômodo, não apenas aos políticos, mas também a alguns jornalistas presentes nas coberturas em que os “homens e mulher de preto” dão o ar da graça.

Em julho de 2008, IMPRENSA dedicou a capa da edição 236 ao programa na reportagem “Barrados no Congresso”. Na época, a atração foi bastante defendida pelos jornalistas entrevistados. Após quase quatro anos dessa reportagem, retomamos o assunto abordando as recentes polêmicas envolvendo a equipe do programa.

Integrantes da "mistura explosiva", sem o Ronald Rios, novo repórter - Agência Na Lata

Abaixo, trechos da entrevista com Marcelo Tas. Leia a reportagem completa na edição de junho (279) de IMPRENSA.

Marcelo Tas, apresentador da "bagaça", como ele chama - Divulgação/BAND

IMPRENSA – O que mudou nesses anos? Por que tantas críticas à forma como o "CQC" age?
Marcelo Tas - Há duas formas de enxergar esses quatro anos. Uma delas, e que considero muito positiva, é que as informações estão mais transparentes e começam a brotar de forma incontrolável. Há muitas denúncias de corrupção porque os caras que detinham o poder de controle têm cada vez mais dificuldade de fazê-lo e a quantidade de coisas que surge agora é assustadora, provoca grande tensão. O outro lado da moeda é que aumentam o interesse e as tentativas de controlar a opinião pública e as informações. Isso é muito grave e temos que estar atentos. O que aconteceu com o rapper Emicida - que fez uma música criticando a ação da polícia e acabou detido - e o clipe do cantor Alexandre Pires - acusado de racismo - são sintomas de pessoas que estão contaminadas com o vírus de voltar para uma época em que tudo era controlado.

IMPRENSA – Como você recebeu o pedido de “limites” ao "CQC" feito pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal?
Tas - O tal sindicato me parece que foi picado pelo mesmo inseto de “controle”. Querer dizer que a atuação do "CQC" prejudica o jornalismo é dar um tiro no próprio pé. Os jornalistas, especialmente em Brasília, tem que prezar pela liberdade de acesso da imprensa. Surpreendentemente, um sindicato que se diz representante de jornalistas faz isso. Trabalho na cobertura de Brasília desde 1984, mas nunca enfrentei uma censura que partisse dos próprios colegas. O que é assustador é que essas atitudes começam a ser toleradas por todos nós que, em última instância, somos defensores de uma liberdade que conquistamos. Por vivermos uma realidade surrealista, de dinheiro desviado, de corrupção, de sujeira, achamos que o mundo é assim mesmo. Não é. Não podemos acomodar, temos que espernear. É essa passividade que a gente procura cutucar com humor. Talvez, atrapalhando esse marasmo, essa passividade, incomodando alguns, a gente traz um tônus novo para o noticiário.

IMPRENSA – Como é a relação com outros veículos?
Tas - Temos um relacionamento excelente com outros colegas e veículos. Fomos convidados agora pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) para participar de seu sétimo Congresso. Vamos debater o nosso quadro “Proteste Já”, que tem a equipe do programa com o maior número de jornalistas, explicar como funciona, como trabalhamos... Porque tem muita gente que julga de maneira apressada nossa equipe de 40 pessoas, das quais metade é jornalista, e outros profissionais que fazem a mistura explosiva entre jornalismo e humor que é a chave do "CQC". É uma forma ousada de trazer notícia. Assim que fazemos e vamos continuar.

IMPRENSA – Por que o "CQC" não entra no Senado?
Tas - Ontem [14/5], iniciamos uma campanha para entrar no Senado. Quase 30 senadores já assinaram um pedido para que a presidência nos autorize. Não nos dão justificativa nenhuma. É uma coisa de dificuldade de credenciamento, pura e simples. O "CQC" não atua de maneira truculenta, estamos novamente, democraticamente, questionando porque não entramos. Teoricamente, a gente não precisa dessas assinaturas porque ali é casa do povo...

IMPRENSA – Como jornalista, o que achou da reação da imprensa às polêmicas com o Meirelles e o Andreoli?
Tas - Hoje é o "CQC". Amanhã pode ser qualquer um. É algo degradante, inadmissível. Eu fiquei chocado com o silêncio. Se todo mundo falar ‘cada um que se vire’ será um problema. Creio que a gente começa a viver uma época de muita passividade e desatenção com uma liberdade que foi conquistada com o esforço de cada um. Há muitas tentativas desajeitadas de censura. Quando o cara que diz que a gente não é sério, ele se diz sério, mas a seriedade dele está em nos controlar. É a atitude de quem não tem argumento, palavra essencial para o que estamos vivendo. É a era do debate. Não basta você dizer que está correto, tem que provar, argumentar, passar pelo crivo da democracia e os vários lados da moeda. Todos nós erramos porque é parte da natureza humana. Você comete um erro, um equívoco, é normal. Quando isso acontece, nos pronunciamos e reconhecemos o erro. Estamos abertos ao diálogo e a qualquer tipo de retificação, assim como outros veículos. Por fazer um tipo de jornalismo que chega no limite, às vezes, a gente erra.

Fonte: Portal Imprensa

Nenhum comentário: