sexta-feira, 23 de março de 2012

LUTO: Aos 80 anos, morre humorista Chico Anysio

Onofre Veras/AgNews

O Brasil perdeu hoje um de seus maiores ídolos. Morreu nesta sexta-feira, dia 23, aos 80 anos, o humorista Chico Anysio.

O ator foi internado no dia 6 de novembro com fortes dores na coluna, chegou a receber alta no dia 11, mas voltou ao Hospital Samaritano, em Botafogo (RJ), no dia 6 de dezembro devido a uma febre alta. No dia 21 de dezembro, Chico foi para casa, porém um sangramento no aparelho digestivo o obrigou a voltar para a UTI.

Após apresentar uma piora nas funções respiratórias e renal na última quarta-feira, Chico voltou a respirar com ajuda de aparelhos e, segundo boletins, recebia altas doses de medicação para controlar a pressão arterial, além de ter sido submetido uma punção torácica esquerda com drenagem de grande quantidade de sangue.

Problemas de saúde

A luta de Chico pela vida vem de longa data. Em dezembro de 2010, o artista deu entrada no mesmo hospital com quadro de falta de ar. Após a realização de exames foi diagnosticado um tamponamento cardíaco, que acontece quando o sangue se acumula entre as membranas que envolvem o coração (pericárdio).

"Sobrevivi a isso tudo porque sou forte, sou nordestino. Não tenho medo de morrer. Só acho uma pena, quando ainda tenho tanta coisa a fazer, para ver, tanto filho para ajudar, tanto neto... Mas, um dia, vou morrer. Não posso lutar contra o inevitável”, declarou ele ao jornal "O Globo" depois de passar 110 dias internado.

Entre idas e vindas ao hospital, Malga di Paula, mulher do astro, nunca perdeu as esperanças e costumava relatar em redes sociais seus dias e noites ao lado do humorista.

O ator, humorista, compositor, escritor, pintor, radialista, comentarista e diretor construiu cerca de 210 personagens ao longo da carreira e fez mais de 10 mil shows pelo país e fora dele.

"Tiro os personagens da vida, do que meus olhos veem nas calçadas, nos campos de futebol, nos estúdios, nas casas que frequento, nos restaurantes. O mundo é minha inspiração", dizia
ele.

E é este mesmo mundo que lamenta a perda de um dos mais completos artistas que o Brasil já conheceu: Francisco Anysio Paula Filho.

Vida pessoal

Chico Anysio nasceu no dia 31 de abril de 1931 na cidade de Maranguape, no Ceará. Registrado como se tivesse vindo ao mundo em 1929 – coisa impossível tendo em vista que sua irmã nasceu no dia 1º de julho do mesmo ano e sua mãe seria incapaz de gerar dois filhos com pouco mais de dois meses de diferença – ele se aproveitou do erro do cartório para fazer tudo aquilo que um menino de 16 anos sonha antes de completar a maioridade: frequentar danceterias, assistir filmes proibidos e dirigir antes do tempo. A idade avançada também causou certos transtornos, como entrar para o exército ainda na adolescência: Chico virou reservista quando tinha oficialmente 16 anos, 18 na certidão e 13 na aparência.

O ator nasceu em uma família com boas condições financeiras. Seu pai era dono de uma empresa de ônibus, além de presidente do clube Ceará Sporting, e era chamado na cidade de coronel, embora não agisse como os coronéis da época. Certo dia a empresa pegou fogo e, como não tinha seguro, ele perdeu tudo.

Pobre da noite para o dia, Chico mudou-se para o Rio de Janeiro com os familiares quando tinha 8 anos.

Numa família de botafoguenses , ele resolveu ser do contra e torcer pelo Vasco. Nunca gostou de praia. Preferia mil vezes estar em casa ou na casa de amigos. "Deem-me uma piscina, o sol, minha mulher, meus filhos com suas famílias e só me ficará faltando carne, sal grosso, três cervejas e um pileque que me colocará a knock-out até a hora de acordar para escutar o jogo ou ir ao jóquei clube ver meus cavalos correndo", diz no texto de sua biografia publicado no site oficial.

Repetiu o ano duas vezes na escola, o que fez sua mãe colocá-lo em um colégio interno. Para se “vingar”, Chico ficou um mês sem aceitar a folga dominical, passando os 30 dias no colégio como se dissesse: se minha família não me quer, eu também não a quero.

Ator porque esqueceu o tênis

Nos tempos de Fortaleza, quando o pai era empresário, pensava em ser cobrador de ônibus. Depois, ao chegar ao Rio de Janeiro, passou a sonhar com a carreira de jogador. Nunca brilhou nos campos, mas também nunca foi o último a ser escolhido no par ou ímpar.

No mesmo dia em que foi intimado por colegas a comparecer a um jogo no campo do Fluminense, onde a exigência era jogar descalço para não estragar a grama – Chico viu seu destino mudar.

O jogo foi transferido para o campo da Aliança, onde não se podia jogar descalço. Como estava sem tênis, ele pediu para os colegas irem andando na frente enquanto iria buscar o calçado. Ao chegar em casa, viu sua irmã Lupe saindo com um amigo para fazer um teste na Rádio Guanabara e decidiu ir também. Fez dois testes e passou nos dois: radio-ator e locutor. “Por isso eu digo que sou ator porque esqueci o tênis”.

A carreira de humorista começou bem antes, ainda em uma sala de aula, quando imitou a frase de seu professor de francês de forma afeminada. Após arrancar risos dos outros alunos que pediam para ele repetir o feito, Chico inovou ainda mais e acabou sendo expulso da classe.

Na hora do recreio voltou a fazer a gozação de duas formas diferentes e foi aí que começou a pensar que poderia ter talento para a coisa. Passou a imitar a empregada, os conhecidos feios ou com características marcantes, os colegas chatos e puxa-sacos.

Profissionalmente, o humor chegou à vida de Chico Anysio paralelamente à carreira de radialista, quando ele teve a ideia de arrumar uma graninha para pagar o cinema da namorada que poderia arrumar ou para assistir a uma partida de futebol. Com facilidade para imitar vozes famosas como a de Oscarito, James Mason, Saint Clarie Lopes, entre outros, o astro inscreveu-se no concurso de calouros “Papel Carbono”, apresentado por Renato Murce, que na época era líder de audiência na Rádio Nacional.

Para apresentar seu número, escreveu 32 piadas, cada uma com uma imitação diferente. No dia 7 de setembro de 1947, Chico se apresentou no programa e ganhou em primeiro lugar, com 399 dos 420 votos. A vitória lhe rendeu um prêmio de cento e cinquenta mil réis que usou para comprar uma bicicleta para o irmão mais novo.

Sem ser aceito mais nos concursos do Rio de Janeiro, por ganhar todos, o ator decidiu seguir para São Paulo, onde deu continuidade ao sucesso e também acabou sendo excluído das seleções. Tinha desistido de ser artista quando surgiu uma vaga para quem quisesse entrar para o mundo do humorismo. Como já fazia parte do elenco da rádio, escreveu três programas para ver se um deles era aceito. Os três agradaram. “Em 1949 perdi a chance de ser um Tarcísio Meira. Deixei de ser galã e fui transferido para os programas de humorismo, onde tive o prazer de atuar com monstros como Grande Othelo, Chocolate, Batista Rodrigues, Jane Gipsy, Gontijo Teodoro, Luis Brandão, Dália Garcia, entre outros. E aprendi que não se deve competir quando se trabalha. Os comediantes não dividem, somam”. E Chico Anysio só veio a somar com Alberto Roberto, Professor Raymundo, Bozó, Divino, Lobo Filho, Painho, Popó, Gastão, Brazuca, Nazareno, Nicanor e tantos outros

Humor hereditário

Para Chico Anysio o humor é uma característica genética. "Meu primeiro sorriso certamente foi por alguma coisa feita por meu pai - a pessoa mais engraçada que conheci no mundo. Ele não dizia uma frase sem uma piada no meio. Eu me orgulhava dele e posso afirmar que talvez nunca tenha pensado em me tornar um artista - queria ser amado como ele era pelos clientes, operários e amigos. Ele sempre ficava no meio de uma roda, todas as pessoas com olhos fixos nele e, volta e meia, explodindo em estrepitosas gargalhadas. Ele era um humorista e não sabia".

Fonte: band.com.br

MCQC: Quando a gente perde os nossos ídolos, percebemos que estamos avançando em idade. Chico fez parte de uma geração que não tinha frescura com piadas para X, Y ou Z; e todos os seus personagens eram atuais. Em uma época que fazer piada é cada vez mais difícil, homens como Chico Anysio fazem muita falta. O humor brasileiro está de luto! O Brasil está de luto! Valeu, Chico!

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