quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Danilo Gentili e Rafinha Bastos abrem casa de stand up no modelo americano


Comedians, em SP, será o primeiro clube totalmente dedicado ao formato: “Começamos a lotar bares devido à internet”, diz Rafinha

Os primeiros shows, quem diria, foram em festas infantis, pizzarias com pouquíssima gente e comemorações corporativas, dessas onde o público nunca está muito atento àquele que segura o microfone. Hoje, eles viraram referência no humor. Rafinha Bastos e Danilo Gentili lotam teatros e colecionam admiradores. Além dos shows de stand up comedy, os dois fazem parte da equipe do CQC, da Rede Bandeirantes.

Com o sócio Ítalo Gusso, velho amigo que acabou virando produtor e assessor de imprensa da dupla, Rafinha e Danilo estão prestes a inaugurar em São Paulo uma casa construída especialmente para shows de stand up. O Comedians terá capacidade para mais de 300 pessoas e foi inspirado em casas americanas como a Gotham, de Nova York, que já foi palco do humorista Jerry Seinfield, um dos ícones do stand up.

As apresentações desse tipo começaram a vingar no Brasil depois do sucesso do Clube da Comédia, inaugurado em 2005. A fórmula é simples: humoristas sem nenhum tipo de caracterização e munidos apenas de um microfone falam sobre situações corriqueiras, como a fila do banco e o futebol. A identificação do público é quase imediata.

Para Danilo Gentili, foi uma união de fatores que fez com que o formato se difundisse rapidamente no país. “A mídia comprou a ideia, os donos de bares perceberam que as apresentações davam dinheiro, mas o sucesso veio principalmente por causa da internet”.

A vontade de abrir um estabelecimento dedicado especialmente ao stand up era antiga, mas foi só depois de uma viagem de férias aos EUA que Danilo e Rafinha, inspirados pelos “comedy clubs” que visitaram, resolveram colocar a ideia em prática.

Em uma conversa em meio às obras do Comedians, Danilo, Rafinha e Ítalo falam sobre o sucesso do stand up, a relação com o público e contam como têm sido as preparações para a abertura da casa, programada para a última semana de setembro:

iG: Vocês se conhecem há tempos, muito antes do CQC, certo?
Danilo: A gente se conheceu num site de relacionamentos… Eu procurava companhia e marquei um encontro com o Rafinha.

Rafinha: É, isso, foi assim sim. Na verdade, existia Clube da Comédia, do qual eu fazia parte. O Danilo entrou para o Clube logo no começo e a gente se conheceu lá… Fazíamos shows também em bares como o Beverly Hills, muito antes do CQC.

iG: Vocês se lembram dos primeiros shows?
Danilo: No começo a gente penava um pouco para arrumar bar para se apresentar. Ninguém queria! A gente já fez show em pizzaria e ninguém ria, em casa de velhos swingueiros… Era um sacrifício convencer um bar a deixar a gente fazer shows…

Rafinha: E eu fazia shows em noivados, casamentos de judeus ricos, festas infantis… Fazia onde dava, para praticar. Fiz apresentações nos lugares mais inóspitos e impróprios que você possa imaginar. E isso há apenas um ano e meio! O difícil é que, em eventos assim, as pessoas não estão muito dispostas a te ouvir. Ou quando o lugar não foi preparado, sem microfone adequado, por exemplo. Nesses casos, você tem grandes chances de se dar muito mal e ficar lá que nem um idiota, por melhor que sejam suas piadas.

iG: Hoje, pelo contrário, vocês lotam teatros e bares. O que quebrou essas barreiras iniciais?
Rafinha: Foi o Clube da Comédia, porque foi o primeiro show que lotou. Começamos a fazer duas sessões por noite e os donos de bares abriram os olhos, perceberam que essa era uma oferta de entretenimento diferenciada.

Ítalo: Aí a imprensa comprou a ideia também. Saíram muitas matérias legais sobre o assunto em vários canais da mídia.

Danilo: Foi um conjunto de coisas: a imprensa, os donos de bares que perceberam que as apresentações davam dinheiro… Mas o sucesso veio principalmente por causa da internet. Foi bem na época do surgimento do YouTube.

Rafinha: É, a gente começou a lotar bares quase que unicamente pela divulgação via internet. Aí as casas começaram a abrir as pernas porque viram que era uma coisa que dava dinheiro. Só que os bares nunca eram próprios para isso.

iG: O CQC também ajudou?
Ítalo: O CQC ajudou porque tem essa exposição dos meninos, que é enorme, mas o Rafinha e o Danilo já estavam aí antes do CQC, os nomes deles eram fortes nesse meio. A gente já fechava shows para 900, mil pessoas. Eles já tinham essa marca de serem os precursores do stand up no Brasil, assim como o Marcelo Mansfield, a Marcela Leal, o Oscar Filho, o Diogo Portugal...

Rafinha: O que mais ajudou foi mesmo a internet. O CQC veio em um segundo momento.

iG: Como surgiu a ideia de se construir uma casa dedicada ao stand up?
Ítalo: Eles foram de férias para os EUA e visitaram algumas casas de stand up. Viram que a ideia poderia dar muito certo no Brasil e aí me convidaram para entrar no projeto como sócio. A gente não pode intitular como primeira casa que faz stand up porque existem bares aqui que já fazem isso… Mas é a primeira com um formato totalmente americano.

iG: E como será o funcionamento da casa?
Ítalo: Vamos abrir inicialmente de quinta a domingo, mas estamos estudando isso ainda… Vamos ter um cardápio diferenciado. As pessoas, quando vão ao teatro, geralmente saem para jantar depois. Queremos que elas jantem aqui e passem uma noite agradável.

Danilo: Esse ponto era um dos que a gente queria. As pessoas se divertem bastante lá fora, Rua Augusta, né?

iG: E os shows? Será um show por noite?
Danilo: Vamos ter sessões especificas, será o “show da noite”. Não é porque eu e o Rafinha estamos construindo que os shows serão sempre nossos.

Rafinha: Pois é, nessa questão artística temos toda essa galera do stand up junto com a gente. Queremos que exista uma rotatividade de comediantes, mas sempre seguindo esse tipo de comédia em que a gente acredita. Estamos construindo tudo do zero. A gente está até imaginando qual seria a melhor logística de garçons para que as pessoas fiquem o mais confortável possível na hora de ver o show… Sabe quando a gente vai num bar e tem uma coluna? E aí a plateia tem que ficar desviando? Aqui de qualquer canto você vê o comediante e de qualquer canto o comediante vê a plateia.

iG: O Danilo disse uma vez que quanto mais verdade houver em uma piada, mais engraçada ela é. Os shows de stand up são mesmo reproduções do que acontece com vocês?
Danilo: Sim, as coisas que eu conto sempre acontecem comigo. Claro que é uma verdade exagerada e às vezes distorcida, mas o ponto de partida é sempre a verdade.

Rafinha: A história muitas vezes pode não ser totalmente real, mas é uma caricatura de alguma coisa ou algo de sua personalidade. Sempre tem a ver com a personalidade do humorista porque senão, o público não compra, não ri. Por exemplo, agora eu tenho um texto onde falo sobre a mulher grávida. As pessoas compram isso, sabem que é verdade, que eu estou casado há muito tempo… Mas, claro, também tenho um texto antigo em que digo que transava com uma mulher que tem tatuado “Frank Aguiar” nas costas. Isso não existe! Mas você vai sentir mais facilidade em escrever sobre aquilo que você está vivendo.

iG: O que faz um bom texto de stand up?
Danilo: O frescor e a atualidade do assunto e a forma com que a gente se expressa faz com que sempre estejamos próximos do público, mesmo que quem esteja assistindo não concorde com você. Se o humorista se renovar, ele estará sempre falando de algo com que a plateia se identifique.

Rafinha: Você fala e as pessoas se veem ali. É um tipo de comédia nova ainda, muito dinâmica, rápida. Em um minuto a gente tem que fazer quatro ou cinco piadas novas e originais. Isso é tempo de internet, as pessoas não têm mais tempo para perder, pra ficar três minutos para ouvir uma piada… Mas ainda estão descobrindo esse tipo de humor e é por isso que a gente achou que era a hora ideal para construir um estabelecimento só para isso.

iG: Por causa dessa identificação, algumas pessoas participam e fazem comentários durante a apresentação. Isso desconcentra?
Danilo: É um pouco chato quando o público grita muito, porque geralmente as meninas que mais gritam não são as gostosas… Outro dia tinha um casal na plateia com um apito. No meio do show eu parei e perguntei quem é que estava apitando. Ficou um climão. No final contornei a situação colocando o casal do apito no meio das piadas. Sempre que tinha que reclamar de alguma coisa, falava do casal. Aí terminou em aplauso.

Rafinha: O palco do Comedians será muito pequeno e baixo, ao contrário dos teatros. Então o público eventualmente vai participar das piadas. Essa é a essência da linguagem do stand up, o humorista tem que estar preparado se o público responder qualquer coisa. Não é um problema. O stand up não é feito para isso, mas inevitavelmente as pessoas participam, o próprio comediante às vezes pede isso. É claro que quem manda mesmo é o humorista que está com o microfone. A pessoa que leva um apito, como o Danilo contou, não tem nada na cabeça…

Danilo: O nome é show, não é diálogo… Quem for engraçadinho e ficar interrompendo, a gente pode interagir, a linguagem até permite. Mas é bom o cara saber que somos comediantes e temos um microfone na mão. Não tem como o cara ganhar, ele não vai ganhar nunca! A não ser que ele esteja com um revólver.

Serviço:
Comedians
Onde: Rua Augusta, 1129
Quando: setembro (previsão)
Quanto: Não divulgado

Fonte: iG

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