sábado, 28 de julho de 2012

Marcelo Tas fala de seu reencontro com as crianças


Apresentador da Band, Marcelo Tas exibe a sua porção multimídia - Por: Pedro Paulo Figueiredo/CZN

Geraldo Bessa - TV Press

Marcelo Tas está sempre inventando alguma coisa. Atualmente, além de liderar a trupe do "CQC", nas noites de segunda da Band, ele apresenta o "Plantão do Tas" esquete cômico do canal infantil Cartoon Network , atua como colunista em jornais e revistas como a "Crescer", escreve no "Blog do Tas", do portal Terra, e ainda dá palestras sobre Comunicação e História Contemporânea pelo Brasil. Por fim, em julho deste ano, ele acrescentou mais um compromisso à sua agenda: o "Conversa de Gente Grande", ou simplesmente "CGG", seu novo programa na Band, com exibição aos domingos, às 20h. "Me sinto esgotado. É muita coisa para fazer e preciso ser organizado para dar conta. O esforço não é só mental, é físico também. Por isso, voltei a praticar esportes", conta o apresentador de 53 anos, que para encarar a labuta está tendo aulas de boxe.

Natural de Ituverava, interior de São Paulo, Marcelo frequentou apenas alguns semestres do curso de Rádio e Tevê da Universidade de São Paulo, em 1980. A graduação foi atropelada pela idealização de quadros e programas para a tevê, onde estreou, junto com os outros membros da produtora de vídeo independente "Olhar Eletrônico" onde figuravam, entre outros, os hoje cineastas Fernando Meirelles e Toniko Melo , no programa "Comando da Madrugada", de 1983, da TV Gazeta. Na mistura entre humor e jornalismo, Tas destacou-se ao interpretar Ernesto Varela, repórter fictício que satirizava os principais eventos e nomes da política nacional da época. "O Ernesto me trouxe muitas alegrias e algumas brigas", destaca, entre risos.

Nos anos seguintes, Tas acumulou trabalhos em emissoras como a extinta Manchete, Globo e MTV. E foi na TV Cultura, de São Paulo, que teve seu primeiro contato com o público infantil, ao participar da idealização e execução dos programas de caráter educacional "Rá-Tim-Bum", de 1989, e "Castelo Rá-Tim-Bum", de 1994, onde deu vida a personagens como o Professor Tibúrcio e Telekid. "Tenho muito orgulho do que fizemos na Cultura. Voltar a trabalhar com crianças me traz boas lembranças", valoriza Tas, que no "CGG" comanda entrevistas e debates, onde equilibra a participação de convidados como Pelé e Sabrina Sato, com a sinceridade de crianças de três a 11 anos de idade. "Estou me sentindo em casa. Além dos projetos do passado, os integrantes do CQC têm a mesma idade mental das crianças do CGG", brinca.

P - Muitos de seus trabalhos na tevê flertaram com o universo infantil. Falar com esse público o instiga?

R - Sempre. Não é em qualquer programa que os entrevistados falam exatamente o que pensam. As crianças são assim: falam o que vem na cabeça. Estamos lidando com um grau de sinceridade raríssimo na televisão brasileira (risos). A ideia do programa surgiu de uma oportunidade muito preciosa de se produzir algo não só para crianças, mas com crianças. Eu tive, historicamente, a chance de participar de vários programas infantis importantes e lembrados até hoje, como "Rá-Tim-Bum" e o "Castelo Rá-Tim-Bum". O "CGG" chega em um momento onde a tevê aberta ignora as crianças e está perdendo a chance de montar um público.

P - Mas você não acha que o público infantil de hoje está mais interessado no conteúdo dos canais pagos?

R - Mesmo que as crianças tenham muitas opções na tevê por assinatura e na internet, acho que os diretores da tevê aberta estão cegos quando acreditam que não precisam mais atender a esse público. A Band não tem essa visão. A programação é dividida e tenta agradar ao maior público possível, como o alvo da tevê aberta é a família, temos com esse novo programa uma tentativa de conquistar um público heterogêneo.

P - E qual o diferencial do "CGG" em relação aos outros programas que você já comandou?

R - Segue a mesma linha, mas vai além da simples função de continuidade, agrega novidades. A linguagem é ampliada, mas a matéria-prima são as ideias e opiniões das crianças. O Professor Tibúrcio, do "Castelo Rá-Tim-Bum", não ouvia ninguém. Agora as crianças têm voz, o que considero um passo arriscado e adiante do que já fiz. Já que mesmo com uma boa equipe de roteiro, ao lidar com essas "ferinhas" é preciso sair do script e ter jogo de cintura para acompanhar o raciocínio deles.

P - Você é do tipo que se envolve bastante no processo de construção dos programas que apresenta. As crianças são selecionadas por você antes de participarem do "CGG"?

R - Não participo da seleção inicial. É claro que dou meus "pitacos" no roteiro do programa com as crianças que foram escolhidas previamente pela produção. Observo o processo de seleção e fico de olho nas histórias mais curiosas.

P - Dessa observação, o que mais chamou a sua atenção?

R - Existe um fato amplo e frequente em quase todas as entrevistas: a visão que os pais têm de seus filhos é, na maioria das vezes, completamente opostas do que as crianças se mostram e são de verdade. Isso é incrível (risos)! Estou chocado, inclusive como pai, com esta constatação. Durante as entrevistas, vi mães falarem que o filho é medroso e está sempre em dúvida de como agir. Aí você conversa com o menino em questão e ele é totalmente bem resolvido.

P - A classificação indicativa do Ministério da Justiça está sempre de olho na participação de crianças em novelas e programas de tevê. Existe algum cuidado para que elas não sejam expostas de forma errada?

R - A gente não quer agredir ninguém e as crianças que participam do programa estão no ar por vontade própria, asseguradas por seus pais. A gente não dá muitos limites, mas é claro que temos bom senso. No início do projeto, até achamos mais adequados chamar crianças a partir dos nove anos de idade. Mas aí foram surgindo personagens interessantes de oito, sete, seis, cinco, quatro... Até que apareceu na minha frente um "micróbio" de três anos de idade. Foi uma das entrevistas mais estranhas da minha vida (risos)!

P - Por quê?

R - Parecia que eu estava falando com um feto (risos)! Os mais novos são os que trazem os assuntos mais ousados. Falam de acordo com a sua lente de aumento sobre violência dentro e fora de casa, sexo e drogas. Tudo com muita naturalidade. Teve uma menina de quatro anos que me deu uma aula sobre o fim do mundo e o que a gente precisa fazer para evitá-lo.

P - O "CGG" vai ao ar aos domingos, às 20h, faixa de muita competitividade e com programas já estabelecidos, como o "Domingão do Faustão", da Globo, e o "Programa Silvio Santos", do SBT. Por que esse horário?

R - Foi uma decisão do artístico e executivo da Band. Não tenho nada contra. É uma aposta da emissora exibir um programa diferente do que todo mundo já sabe que vai encontrar na tevê. Estamos entrando nessa briga sem grandes expectativas.

P - Você é o quarto integrante do "CQC" a comandar um programa solo na Band. Era um desejo antigo seu?

R - Era uma vontade da Band. Eu não tinha nenhum projeto neste sentindo. O que faço hoje na Band já é bem desgastante. O "CQC" me dá muito trabalho e continua sendo minha prioridade dentro da emissora. Tem alguns anos que a direção artística tenta me convencer a ter outro programa, algo que eu adiei ao máximo. Tanto que eu queria que o "CGG" estreasse apenas em 2013. Acabei vencido, pois o projeto amadureceu muito do ano passado para cá.

P - Sua participação no "CQC" ficou comprometida com as gravações do novo programa?

R - A produção agendou a gravação dos pilotos e dos primeiros episódios do "CGG" de forma que não afetasse minha participação no programa principal. Para não ficar com a agenda muito apertada, estou gravando o novo programa desde fevereiro. Para ser bem sincero, acho que depois que comecei a apresentar os dois projetos, meu desempenho no "CQC" melhorou. Ao trabalhar com crianças de verdade, passei a lidar melhor com Marco Luque e Oscar Filho (risos).

P - O "CGG" é baseado no argentino "Agrandadytos", propriedade da Eyeworks produtora portenha também responsável por outros programas da Band, como o "CQC" e "A Liga". Como o formato chegou até você?

R - Vi pouco da versão argentina. Não importamos o formato de fato. O processo de criação começou do zero. Trabalhamos em cima de muitos formatos que estão no ar na televisão mundial. Adquirimos o direito de vários quadros e detalhes que, eventualmente, podemos usar. O engraçado é que são coisas já utilizadas pela tevê brasileira mas que hoje têm a concepção patenteada por alguma produtora. O "CQC", que é um programa importado, com formato mais clássico e rígido, também teve o projeto de criação expandido para se adequar à realidade brasileira.

P - O "CQC" está em sua quinta temporada e você acaba de estrear o "CGG". Depois de passar por diferentes emissoras, você acredita que se encontrou na Band?

R - Estou feliz. Me sinto respeitado e valorizado dentro da emissora. Sempre prezei pela minha liberdade artística e tenho isso na Band. É possível ver isso na espontaneidade de conteúdo do "CQC" e agora do novo programa. Tenho visibilidade e estrutura para mostrar o meu trabalho, sem ter de largar meus outros projetos dentro da televisão, como o "Plantão do Tas", que apresento no Cartoon Network. E, fora dos estúdios, como palestras Brasil afora, colunas em jornais e revistas e o blog que mantenho no portal Terra.

Ator escondido

Além dos personagens cômicos e dos tipos infantis que interpretou em programas dos anos 1980 e 1990, Tas chegou a atuar no especial da Globo "O Alienista", de 1993, baseado na obra de Machado de Assis. "Foi uma brincadeira. Interpretei um repórter e fui dirigido pelos amigos Guel Arraes e Jorge Furtado", relembra. Além da tevê, ele também já mostrou sua porção ator nos palcos. Em 2005, adaptou algumas aventuras do intrépido repórter Ernesto Varela para o teatro no espetáculo "A História do Brasil Segundo Ernesto Varela Como Chegamos Aqui?". "A peça fez muito sucesso e já me pediram para voltar. Infelizmente, não tenho tempo. Penso em atualizar o espetáculo e reestrear no ano que vem, quando o personagem completa 30 anos", avisa.

Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul

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