domingo, 1 de janeiro de 2012

Felipe Andreoli fala do amor pelo tênis, exalta Agassi e não vê futuro para Bellucci


Fiquei até tenso para escrever meu primeiro texto opinativo/crítico/emocional sobre tênis, muito porque para boa parte da galera me conhece como humorista, mas todos estão errados, pois minha formação é jornalista, portanto, 15-00 pra mim. Aliás, minha ligação com o tênis é bem anterior ao humor. Minhas primeiras memórias tenísiticas vêm do meu primeiro ídolo no esporte o tcheco naturalizado americano Ivan Lendl. Adorava vê-lo jogar. Para mim ele parecia uma máquina, frio e gelado, o Robocop da raquete ( na época ainda não existia o Exterminador do Futuro, isso só num futuro não tão distante). Me lembro de sempre torcer para ele vencer Boris Becker, com quem encontrava com frequência nas finais. Não sei porque mas não ia com a cara do alemão. Achava que aquele loiro branquelo não podia jogar tão bem como o Robocop tcheco (na epóca, ainda era tchecoslovaco...)... E essas são minhas primeiras memórias do esporte.

Recém adolescente me aventurei em minhas primeiras raquetadas. Quando mamãe ainda gozava de saúde financeira tive o privilégio de treinar nas belas quadras do hotel Transamérica. O professor era um chileno chamado Manolo...ficarei devendo o sobrenome. Mas Manolo me fez amar esse esporte que alia físico e mental como poucas modalidades. Hoje, como diz meu treinador, Rodrigo Barbosa, filho do grande duplista brasileiro Givaldo Barbosa, estou no nível tiozinho competitivo. Gosto de me gabar da minha paralela de esquerda, à la Agassi. Humilde, né?

Andre Agassi, diga-se de passagem, foi meu maior ídolo no tênis. Sua roupa, sua atitude e seu estilo cativaram muitos jovens da minha geração e eu não fui diferente. A melhor devolução que eu já vi no esporte era a dele. O carisma de Andre também é difícil de ser batido. Aproveito para deixar uma história breve e curiosa. Uma vez gravei pelo CQC e tive o privilégio inigualável (uma das maiores emoçoes da minha vida) de bater uma bolinha com Guga Kuerten e Andre Agassi. Depois da brincadeira pedi para Agassi autografar sua biografia que havia acabado de ler. Ele autografou simpático, mas sem nenhuma emoção. Logo depois disse para ele que havia lido também a bio de Pete Sampras, mas que não havia comparação. Que o livro de Pete era um mero manual de tênis, já a dele era uma lição de vida. Ele abriu um largo sorriso, me olhou nos olhos e disse: “Really? So Pete bioagraphy it's shit? Nice!” ( Sério? Então a bio de Sampras é uma merda?! Legal...)

Fiquei impressionado com a reação dele. Não disse que a bio de Sampras era um lixo, disse que eram diferentes, e que a de Agassi era mais legal. Mas foi incrível perceber que, mesmo após anos e anos de disputa acirrada (com boa vantagem para Pistol Pete), Agassi continua competindo com Sampras, até pelo melhor livro. Realmente, foi uma era de grandes tenistas. Do número 1 até o 50 tínhamos vários jogadores talentosos. Ríos, Moya, Corretja, Ivanisevic, Hewitt, Norman, Coria, Rafter, Kafelnikov, além dos brasileiros Guga, Meligeni e Saretta. Era muita gente boa.

Nos últimos anos nos acostumamos a ver um mesmo duelo nas principais finais. Roger Federer x Rafael Nadal. A dupla nos proporcionou jogos históricos nos últimos anos. Batalhas épicas em Wimbeldon, a freguesia de Federer no saibro e em Roland Garros, o confronto entre a beleza e o estilo do suiço contra a força e a concentração do espanhol. Falando em Nadal eu também li sua biografia neste ano. Fiquei meio desconfiado: como um cara de 25 anos pode ter uma biografia? Me enganei. Para os amantes de tênis é fascinante sentir nas palavras dele o frescor das competições. Sentir o que o cara sente quando está na quadra. E ver que ele e Agassi tinham em comum um treinador carrasco e familiar. Agassi foi sempre acompanhado pelo pai, enquanto Nadal tem o Tio Toni como seu treinador até hoje. Lendo os livros se percebe que a frase "No pain, no gain" ( Sem dor, sem vitória) é verdadeira.

No livro, Nadal cita Federer como grande rival. E lá no fim do livro, que se passa no fim de 2010, ela fala sobre um tal de Novak Djokovic. Nadal diz que sabia que aquele sérvio lhe daria trabalho e estaria entre os grandes, ou seja, ao lado dele e de Federer. E Nadal tinha razão. Que o ano era de Novak Djokovic. Seus golpes retos e regulares são o terror para qualquer tenista. Nadal diz que sempre teve uma tática contra Federer: bola alta, com spin, na esquerda. Sempre. Já contra o sérvio ele diz não ter uma tática definida. Que, em tese, o Nole (apelido do sérvio) é mais difícil de se vencer.

Nesse ano, enquanto esteve 100% fisicamente, Djoko passou por cima de seus adversários. Jogou muito, distribuiu golpes certeiros e muita simpatia. Simpatia que me faz lembrar meu velho ídolo Andre Agassi. Me fez lembrar o eterno ídolo Guga Kuerten. Nadal sofreu com seus probelmas físicos, acumulados de seu esforço e desgaste natural durante os jogos. O cara dá tudo na quadra mesmo quando não está em condições. E, no fim do ano, quando todos já comentavam a iminente decadência de Federer, o suiço mostrou que ainda tem muita garrafa vazia pra vender. Deu show no Masters em Londres e jogou o tênis lindo e perfeito que o consagrou. Não há nada mais bonito do que Federer jogando tênis. Parece balé.

Falando em Brasil, falamos de Bellucci, nossa única esperança nesse esporte. Dizem que a esperança é a última que morre. Depois da parceira com Larri Passos não ter dado certo, começo a achar que temos que procurar outra esperança. Com todo respeito, Thomaz não venceu nem o Masters do Challengers! E perdeu 2 vezes para Dudi Sela no ano! Juro que gostaria de estar errado, e já vi Bellucci batendo forte e bonito na bola, mas não acredito que ele vá além disso. Vai ficar por ali, jogando um ou outro torneio bem, mas perdendo quando realmente importa. Se eu errar, pode me cobrar depois. É o que eu sinto e acho. Ele é tipo eu na quadra...o cerébro atrapalha.

Amo demais esse esporte e não vejo a hora do Aberto da Austrália começar. Quero mais Federer x Nadal, Nadal x Djokovic, Djokovic x Federer. O bom de ter mais do mesmo é que essa mesmice é genial. Ainda acho que vou viver para assistir um tenista fechar um Grand Slam. Será que em 2012 Novak Djokovic conseguirá levar todas? Acho dureza. E não vejo a hora de começar.

Play!

Fonte: UOL Esporte

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