segunda-feira, 28 de maio de 2012

Criador do CQC, diretor que promoveu o ibope da Band vem da Argentina


Divulgação/Agência Na Lata

Reza a lenda que um sapo com a boca costurada foi enterrado no jardim da sede da TV Bandeirantes, no Morumbi, em São Paulo. É que, por mais interessantes que sejam alguns programas e profissionais da emissora, sempre lhe faltou habilidade para conquistar uma audiência cativa. Mas não é que o feitiço nunca deu tamanha evidência de ser desfeito como nos últimos seis meses, desde a chegada de um novo diretor de programação? E, pelas origens de Diego Guebel, nascido na Argentina e frequentador semanal da ponte aérea Buenos Aires-São Paulo-Buenos Aires, seguramente ele nada entende de mandinga. Entende de conteúdo e programação.

Seis meses foram suficientes para fazer um estrago na RedeTV!, com a contratação do Pânico, e para inventar algo capaz de resgatar a audiência perdida na faixa nobre durante os cultos (bem pagos) do pastor RR Soares. Quem Fica em Pé, game que apresenta a face mais pacífica de José Luiz Datena, tira a emissora do traço no Ibope, para transferir o bastão ao programa seguinte com 4, 5, às vezes 6 pontos de audiência em São Paulo. Guebel chegou à Band indiretamente há quatro anos, via CQC, criação de sua produtora, a Cuatro Cabezas, que foi estendendo seu menu à grade com A Liga, Polícia 24 Horas, E 24, Mulheres Ricas, O Mundo Segundo os Brasileiros e Agora É Tarde.

“É muito difícil, pra mim, dizer que a vinda do Pânico é ideia minha. É uma ideia de todo mundo, não acho que reinventei a Band”, diz Guebel, em entrevista ao Estado. De camiseta e calças pretas, o que no seu caso é quase um uniforme – “é mais prático”, alega –, o diretor dispensa figurino de executivo e bem se faz entender no portunhol. Em abril, a Band foi a única rede a registrar crescimento em relação a março no Painel Nacional de TV do Ibope (PNT), com salto de 1,9 ponto para 2,5. o que vale mais de 47% de crescimento, na faixa das 7 h à 0 h. Os progressos se observaram principalmente à tarde, com o novo programa de Adriane Galisteu, puxando a faixa noturna, e nas noites de domingo, com o Pânico.

Toda quinta-feira, Guebel embarca para Buenos Aires, retornando a São Paulo na segunda ou terça-feira pela manhã. Nesse intervalo, conecta-se ao canal via Skype, MSN, telefone e outros bichos, mas não vê a programação ao vivo – “assisto depois”. E quando acontece de o Pânico exibir a aflição de uma Panicat que tem a cabeça raspada ao vivo, como ocorreu há um mês? Guebel garante que não é pego de surpresa. “É uma brincadeira entre eles, não forçaram ninguém, não foi uma pessoa que trouxeram da rua, é uma pessoa que trabalha com eles há anos, e ela é linda: com cabelo ou sem cabelo, ela é linda”, endossa.

Tela é a janela. Para o mês que vem aí, Guebel prevê a estreia do Conversa de Gente Grande, talk show conduzido por Marcelo Tas com crianças, que provavelmente irá ao ar antes do Pânico. Para as tardes de sábado, está prevista outra estreia com um dos rapazes do CQC, no caso, Felipe Andreolli, que terá a companhia do ex-jogador e comentarista Denilson e da jornalista esportiva Paloma Tocci em um novo programa esportivo para jovens. Lá pelo fim do ano, talvez até 2013, pretende lançar versões locais de dois sucessos internacionais: o Kitchens Nightmares, sobre restaurantes que carecem de uma grande reorganização, feito lá fora pelo explosivo chef Gordon Ramsay, e Quem Quer Casar com Meu Filho?, reality em que as pretendentes a determinados rapazes são (ou não) escolhidas segundo os critérios das mães deles: é o olhar da sogra.

Confiante no efeito universal que um bom programa de entretenimento é capaz de gerar, Guebel dispensa diagnósticos geográficos para saber que o que pode dar certo na Argentina também pode funcionar aqui, na Espanha ou na Holanda. “Por exemplo: Mulheres Ricas é uma produção da Cuatro Cabezas, mas originária da Espanha, que depois fizemos aqui. O Agora É Tarde, também formatado aqui, ganhou uma versão na Argentina, que lá se chama Antes Que Seja Tarde”. E as mulheres na Espanha foram ridicularizadas como aqui? “Imagina, a ideia não era ridicularizar, era só mostrá-las. O humor é por conta da gente”, completa. “É muito difícil encontrar uma ideia que seja ‘argentina’. São ideias que têm a ver com cidades grandes, que têm problemáticas similares.”

Para Guebel, a equação entre qualidade, entretenimento e quantidade de audiência deve saber como e a quem se dirige. “Quando perguntam: ‘qual é a televisão que você quer olhar?’ ‘Ah, a televisão cultural’. Até a televisão cultural, para comunicar o que quer, não consegue fazer isso com um produto que não seja visto. São como duas legendas diferentes. Se você tem vontade de falar alguma coisa, tem que decodificar quais palavras abrem os ouvidos e quais não abrem. Depois você pode ver se quer comunicar uma mensagem de amor, de sacanagem, ou o que quer, mas a verdade é que se entra na casa das pessoas entretendo. A tela é uma das janelas mais importantes da casa.”

Fonte: E+/Estadão

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