domingo, 29 de agosto de 2010

Proibição de piadas com políticos foi um tiro no próprio pé, diz humorista do CQC


O ator Oscar Filho falou ao R7 nesta sexta-feira (27) sobre os planos do CQC

No embalo da liberação do humor com candidatos em emissoras de rádio e TV, que aconteceu nesta quinta (26), o R7 tentou descobrir se alguns programas de humor da televisão brasileira vão aproveitar a “liberdade” para satirizar as exóticas campanhas eleitorais em andamento.
As piadas envolvendo candidatos às eleições deste ano no Brasil estavam proibidas por uma norma desde o dia 1º de julho.

A apresentadora Sabrina Sato, do Pânico na TV (Rede TV!), não foi localizada – seu telefone celular permanece desligado -, mas o humorista Oscar Filho, do programa CQC (Band), respondeu a algumas perguntas enviadas pelo R7.

Leia, abaixo, o pingue-pongue com o artista. Aparentemente, ele está bastante consciente do papel dos humoristas, em um país no qual o horário político oferece - ao menos duas vezes por dia - uma variedade de piadas prontas.

O lado complexo da questão é escolher entre o riso espontâneo, o constrangimento e o choro em frente à TV.

R7 - Você acha que sem essa proibição a cobertura das eleições ganha uma nova possibilidade de mostrar quem são, de verdade, os candidatos que estão na disputa?

Oscar Filho - Sim, é um poder a mais que nós temos. As coisas estão muito homogêneas hoje em dia, todos os candidatos são muito iguais. Antigamente, víamos brigas homéricas do Brizola contra o Maluf, por exemplo. Talvez não fosse elegante, mas mostrava a personalidade real da pessoa e a paixão por aquilo [que fazia]. Hoje, vemos candidatos fazendo plásticas para serem melhor aceitos pelo eleitor. Quem nunca sorriu antes está com um sorriso que vai até a testa. Então os programas podem questionar essas atitudes e colocar os candidatos contra a parede um pouco mais. Se eles ficam na zona de conforto e seguem direitinho o que dizem os assessores de imagem, tudo fica fácil e bonito demais.

R7 - Você considera que o movimento Humor sem Censura vai inspirar na população uma vontade maior de lutar contra as coisas erradas que acontecem no país?

OF - Eu acho que é um dos caminhos. A democracia é muito jovem no nosso país, tem só 21 anos. Sendo assim, não sabemos como lidar com essa liberdade toda. De forma geral, não sabemos como ou onde procurar informações sobre os políticos, quem são e por que estão sendo candidatos a tais cargos, e, se eleitos, qual poder terão exatamente. Não sabemos o que é cidadania e que ela pode fazer grande diferença se for consciente a todos.

R7 - A produção do CQC está preparando alguma coisa para aproveitar a queda da proibição? Como vocês pretendem usar essa nova “arma” no programa?

OF - Ai, caramba, isso eu não sei. Foi ontem de noite que aconteceu, então não sei. Mas acredito que vai ser citado, sim, não é um assunto que passará em branco.

R7 – Como você se sentiu sabendo que parte do seu trabalho no CQC estava sendo censurada? E qual a experiência que você tirou desse período?

OF - A censura, de uma maneira geral, é um desastre. Ser cidadão de verdade é compreender que quem escolhe os candidatos somos nós. Portanto, eles são funcionários de todos que pagam altos impostos. E mais, são eleitos para defender o interesse público. Duvido que o interesse público seja censurar o humor político, por exemplo. Me senti atado de certa forma, porque, em matérias políticas, certas perguntas não poderiam ser feitas porque poderiam ser interpretadas como ultrajantes.Perguntas são perguntas, quem quiser que as responda. A experiência é a confirmação de que se o povo se unir e souber o que está fazendo, as coisas mudam mesmo. O movimento Humor sem Censura, que o humorista carioca Fábio Porchat iniciou, fez fomentar uma série de discussões na internet sobre o assunto, o que culminou na passeata. O questionamento sobre qualquer assunto é o caminho progressivo para a clareza do que está se discutindo. É o que o TSE queria impedir: questionamentos políticos sérios usando o humor como ferramenta. Só que foi um tiro no pé, pois a censura faz a discussão ficar bem mais apimentada.

Fonte: R7

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