A liminar concedida pelo ministro Carlos Ayres Britto, do Supremo Tribunal (STF), que libera as emissoras de televisão e de rádio a exibir programas com sátiras a candidatos no período eleitoral foi bem recebida por humoristas, que, no último domingo, fizeram uma passeata que reuniu cerca de mil pessoas no calçadão de Copacabana, no Rio de Janeiro. Dono de um humor ácido, Danilo Gentili, integrante do humorístico Custe o que custar (CQC), da TV Bandeirantes, comemorou a decisão do STF, mas ressaltou que esse tipo de sentença não tem tanta eficácia no Brasil.
"Os canais de televisão são concessões públicas. Quando nós mexemos com um político influente e ele se incomoda, o cara liga para o dono da TV e a piada é censurada de qualquer maneira. É por essas e outras que estou preparando, há três semanas, um texto para ser apresentado especialmente em Brasília, na antevéspera das eleições, no Teatro Nacional, só com piadas políticas", revela Gentili, explicando que o show, com duração de aproximadamente uma hora, será exibido, ao vivo, via internet para todo o país.
Um dos idealizadores da passeata, o humorista Fábio Porchat frisou que o evento no Rio de Janeiro foi importante para "colocar uma lente de aumento sobre o problema". Segundo ele, a manifestação teve repercussão internacional e ajudou a ter uma solução rápida. "Estarei na capital federal, na próxima semana, para uma reunião com o ministro da Cultura, Juca Ferreira. Ele me ligou para dizer que está do nosso lado", disse. "Vamos esperar que a decisão definitiva do STF, que deve sair em setembro, também seja favorável aos humoristas", completou.
Apresentador do CQC, Marcelo Tas creditou a decisão do ministro Ayres Britto à mobilização feita por humoristas, que fizeram protestos em diversos pontos do país. "Vejo como uma demonstração de sensatez do ministro Ayres Britto." Em relação aos planos do CQC a partir da liberação da lei, Tas evitou adiantar o conteúdo do programa, mas prometeu que não vai exagerar. Segundo ele, "a melhor resposta sempre é olhar para o poder com um olhar crítico" e "fazer do humor uma lente que enxerga os defeitos das pessoas". Questionado sobre os riscos de ter de conceder direitos de resposta a candidatos que possam se sentir prejudicados pelas eventuais piadas, Marcelo Tas foi enfático. "Temos que estar preparados sempre para o pior. Quem vive num país em que o Senado tem como presidente o José Sarney (PMDB-AP) tem que estar preparado para tudo", resumiu.
O ator brasiliense Felipe Gracindo, do Grupo G7, lamentou não ter participado da manifestação de domingo passado, mas comemorou o que chamou de decisão sensata do Supremo. "A limitação que a lei faz à liberdade de expressão é um passo inicial para que você tenha outras liberdades desrespeitadas."
Entenda o caso
A liminar concedida na noite de quinta-feira pelo ministro Carlos Ayres Britto à Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert) permite que sejam veiculados programas de humor com sátiras a candidatos que disputam as eleições. Em sua decisão, Britto suspendeu parte do artigo 45 da Lei Eleitoral, que proíbe, no período de três meses que antecede o pleito, o uso "de trucagem, montagem ou outro recurso de áudio ou vídeo que, de qualquer forma, degradem ou ridicularizem candidato, partido ou coligação". A decisão ainda não é definitiva. O julgamento em plenário deve ocorrer em setembro. Até lá, os efeitos da liminar permitirão as piadas com políticos.
Fonte: Diário de Pernambuco
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