Foto: George Magaraia
Até então em silêncio sobre a última polêmica do programa CQC, Marcelo Tas deu sua opinião sobre o episódio que culminou com o afastamento de Rafinha Bastos do programa da Band.
“O politicamente correto é uma peste que veio para infernizar a vida dos seres humanos, sou totalmente contra. O humor tem que ser engraçado. Agora, se você faz uma coisa que agride alguém e não é engraçado, aí para mim você chegou no limite”, disse. E depois suavizou a polêmica. “Isso não é nada grave para ser debatido como a coisa mais séria do mundo”, continuou.
Na edição do programa CQC, da Band, que foi ao ar no dia 26 de setembro, Marcelo Tas comentou que achava Wanessa Camargo “uma gracinha” grávida. Rafinha Bastos, seu colega de bancada, disse que “comeria ela e o bebê”. O comentário gerou revolta nas redes sociais, as mesmas que alçaram o programa à categoria de atração do momento. Rafinha foi suspenso e substituído por Monica Iozzi.
Tas concedeu uma entrevista exclusiva ao iG dentro da programação oficial do Festival do Rio, logo após participar de um debate sobre formas de se fazer sucesso, neste domingo (9).
iG: Você acaba de fazer um debate no Festival do Rio associando o sucesso do CQC no País com o uso da internet. Pode explicar melhor?
MARCELO TAS: A internet sempre foi fundamental para o CQC. Atribuo a rapidez pela qual o programa foi recebido no Brasil por causa das redes sociais. A maioria de nós tem uma presença consistente na internet. Isso foi transferindo aos poucos para a TV. É uma geração que não quer a interrupção, quer continuar com aquilo além do programa da televisão.
iG: Tem também o lado negativo, o de dar mais espaço para críticas...
MARCELO TAS: É o efeito colateral da internet. Você fica mais exposto, não controla tanto a informação, é mais criticado. Você é mais vidraça. Acho saudável, convivo muito bem com críticas. Principalmente as críticas sinceras. Isso ajuda a melhorar o que faço. É uma vida mais difícil. Mas não gostava daquela vida que a gente ficava falando e o telespectador acompanhava calado.
iG: O CQC é o programa mais polêmico da TV atualmente?
MARCELO TAS: Olha, o CQC é objeto de muito embate. Às vezes é exagerado. Qualquer coisa do programa vira debate. Tem gente que acha isso bom. Acho que é bom você debater coisas conscientes. Mas não fujo de brigas. O cara que vê o CQC, por a gente ser ousado, também é, quer desafiar, joga casca de banana para gente escorregar. O telespectador atual não é passivo, quer criticar, quer participar. Não tem volta, a vida da gente agora é assim.
iG: O que você achou da declaração do Rafinha Bastos, que gerou seu afastamento do programa?
MARCELO TAS: Creio que a TV é um lugar que a gente atinge uma audiência muito maior do que se pensa. Acho legal ter consciência disso e enxergar nossos limites. É o que está acontecendo agora. A gente está conhecendo os limites. Acontece em todo programa. É uma excelente oportunidade para amadurecer e superar, enfrentar esta crise e fazer um programa cada vez melhor.
iG: Rafinha foi apenas afastado temporariamente ou será substituído em definitivo?
MARCELO TAS: Não sei. Não sou eu que tenho que responder, não tenho nada a ver com este assunto. Cuido da parte editorial, não é um assunto meu.
iG: Houve um pedido de desculpas formal para Wanessa Camargo?
MARCELO TAS: Não sei, não sei. Não tenho a menor ideia (risos).
iG: Qual é o limite do humor? Até onde se pode ir com uma piada?
MARCELO TAS: O limite do humor é a graça, é ser engraçado. O politicamente correto é uma peste que veio para infernizar a vida dos seres humanos, sou totalmente contra. Acho um nojo ter que falar “afro-brasileiro” ao invés de negro. Não poder fazer piada para judeu? O humor tem que ser engraçado. Se você faz uma coisa que agride alguém e não é engraçado, aí para mim você chegou no limite. Agora, isso não é nada grave para ser debatido como a coisa mais séria do mundo. É uma coisa inútil, parece mesa-redonda de futebol discutindo se foi impedimento ou não.
iG: O programa vai passar por alguma censura? Será mais policiado?
MARCELO TAS: Não acho. A gente não reage por causa de críticas ou pelo que as pessoas pensam. Gosto de ouvir o público e a sua pulsação sincera. O programa não reage a críticas. Até porque a gente tem críticas muito favoráveis.
iG: Considera um exagero a polêmica em torno deste assunto do Rafinha?
MARCELO TAS: A gente perde muito tempo no Brasil falando de coisas que não têm importância. Na história recente do programa, tivemos uma grande luta contra preconceito de gays, com o episódio do Bolsonaro. Colocamos na parede o grande líder do Congresso, que é o Renan Calheiros. Para um programa de humor, está de bom tamanho enfrentar os grandes coronéis da política brasileira, que são o Renan e o Sarney. O quadro “Proteste Já” trouxe recentemente uma denúncia contra um partido que a grande imprensa costuma tratar com benevolência, o PSDB. Sobre o uso de uma prefeitura como comitê eleitoral. E a gente aqui perdendo tempo falando de piadinhas.
iG: A exacerbação de comediantes vindos do stand up banalizou o profissional do humor?
MARCELO TAS: A banalização das coisas depende da gente. O stand up abriu a possibilidade do surgimento de humoristas que não tinham espaço no rádio e na TV. Isso não quer dizer que todo stand up é engraçado. Não é uma marca de qualidade. Tem stand up banal, sem graça e os que são excelentes.
iG: Humorista costuma ganhar bem, certo?
MARCELO TAS: Isso é um fato. Se você pega a rede americana, o maior salário é do David Letterman. Na TV brasileira, quem tem o maior salário? Fausto Silva, Jô Soares, Tom Cavalcanti. E a razão disso é que fazer humor é uma tarefa difícil. São poucos os bons humoristas. Cadê o bom roteirista de humor? São poucos. Então eles têm que ganhar mais. Lei da oferta e procura.
iG: Os repórteres do CQC vieram do stand up. O improviso é o elemento primordial do programa?
MARCELO TAS: Tem muito do DNA do improviso com a coisa do humor e rapidez. É justamente a mistura do jornalismo com o humor. E tem a categoria invisível que é a dos editores, que montam a matéria e tiram fora a parte que não tem graça. São 40 pessoas no total, sendo oito na frente da câmera. Geralmente a polêmica que sai na imprensa é sobre estas oito. E as outras 32?
Veja o vídeo:
Fonte: iG
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