Só resta aproveitar. Com o veto da CBF, os humoristas Rafael Cortez e Felipe Andreoli, do CQC, ficaram sem ter o que fazer e decidiram se esbaldar numa praia da Cidade do Cabo.
Mesmo quem detesta mesa redonda não resiste a uma parada na frente da TV em dias de Copa do Mundo. Para quem trata esporte como entretenimento, acompanhar uma discussão de horas sobre o lance que foi ou não pênalti - e que não mudará o resultado da partida - pode ser maçante. Durante a Copa, porém, a torcida que busca diversão tem vasto menu à disposição, com debates, humorísticos ou jornalísticos que, feitos na TV, caberiam perfeitamente numa mesa de botequim.
Com a popularização das redes sociais e a tendência de um telejornalismo cada vez menos carrancudo, a cobertura deste mundial pela TV promete ser mais informal que nunca.
Escolado em eventos esportivos desde que atuava como repórter de campo, Felipe Andreoli atribui parte da informalidade ao humorístico da Band, que estreou em março de 2008. "Pode até parecer pretensão, mas acho que o CQC tem muito a ver com isso: ele amoleceu o coração do jornalismo, que percebeu que dá pra ser mais flexível, bem-humorado." Para ele, o maior exemplo da cobertura descontraída é o Globo Esporte, ancorado por Tiago Leifert na Globo. "Eles estão investindo nesse formato, porque, à 1h da tarde, é o jovem quem está na frente da TV, a dona de casa que não quer saber quem levou cartão amarelo, quer é ver a perna do Kaká", acredita Andreoli. Ele estará na África do Sul com Rafael Cortez - a dupla já visitou o país, como denuncia a foto ao lado, em Cidade do Cabo.
O Rockgol, da MTV - segundas, 21h, e em dias de jogos do Brasil, às 20h -, dono de larga experiência em satirizar mesas redondas, terá Paulo Bonfá na África a partir desta terça. De lá, ele fará programas diários, com exibição às 21h. "Será bem menos informativo e jornalístico e bem mais divertido e curioso", conta Bonfá. "Minha proposta é realizar um reality show, pois na Alemanha percebi que, além do lado glamouroso de estar na Copa, que as pessoas todas idealizam, há um monte de roubadas", conta.
Com a partida de Bonfá, Marco Bianchi assume os debates do Rockgol. "Não sei em que ponto isso é uma vantagem ou uma desvantagem para o espectador", brinca Bianchi. "Vamos ter convidados estrangeiros. No dia do jogo contra a Coreia do Norte, vamos tentar ter um norte-coreano nos debates ou simular a presença de um", brinca Bianchi, que fará o dicionário da Copa, com expressões "acessíveis" para estrangeiros. " ‘Chuverinho’ vai ser ‘little shower’."
Seleção sem humor. Mais do que qualquer jornalista, os humoristas que embarcam para esta Copa vão precisar de paciência e, sobretudo, criatividade. Isso, porque, desde 26 de abril, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) proibiu a presença de programas humorísticos em treinos e entrevistas da seleção.
O anúncio ocorreu dois dias após o Legendários - sábados, 22h, na Record -, ter feito algazarra com o Supertição (Marcelo Marrom) e seu assessor-anão Nestor (Nestor Bertolino) em frente à casa de Dunga, pela convocação do atacante Neymar, do Santos. A patacoada fez Dunga chamar a polícia. Depois disso, a dupla tentou entregar uma carta de desculpas ao técnico, o que terminou com a prisão de Marrom na última quarta-feira (o comediante furou a segurança no evento em que estavam Dunga e o presidente Lula).
"É injustiça que o Marrom carregue uma culpa como esta (pelo veto da CBF). Isso ia acontecer mais cedo ou mais tarde, já declarou o Rodrigo Paiva, assessor de imprensa da CBF", afirmou Marcos Mion, apresentador e diretor do Legendários, ao Estado. "A superexposição da seleção na última Copa foi muito criticada e até culpada pela derrota. O Dunga está vetando todo mundo, não é algo pessoal com o Legendários ou com os humorísticos."
Bonfá concorda. "Isso está ligado à moda do politicamente correto, que assola o humor brasileiro, como se você não pudesse brincar com a seleção", fala. "Os humoristas têm direito de tentar uma piada, assim como as pessoas têm o direito de não achar graça", completa Bonfá.
Com tantos entraves ao acesso à seleção canarinho, a trupe do Casseta & Planeta desistiu de ir à África do Sul, a não ser que o Brasil chegue à final. Também procurada pelo Estado, a equipe do Pânico na TV fugiu da polêmica e se recusou a falar conosco.
Já o CQC - segundas, 22h, na Band - vai focar em outras seleções. "Nossa missão é ajudar o Brasil e atrapalhar quem estiver no caminho do Brasil", diz Andreoli. "Mas também não estamos muito preocupados com o veto, porque somos jornalistas e estamos fazendo a cobertura pela Band, uma transmissora da Copa. Somos o único programa dito de humor com credencial", gaba-se o moço de preto.
Para os humoristas da MTV, a intenção é frisar que o futebol é entretenimento. "Dunga trata a seleção brasileira como se fossem as Forças Armadas", diz Bonfá. Bianchi crê que a seriedade no esporte, em última análise, leva à violência entre torcidas. "O futebol é entretenimento, não uma razão de vida e muito menos pretexto para justificar atos de violência." E vai além: "O povo brasileiro é tão alegre, e o nosso futebol já expressou isso. Agora não mais. Pode até ser um futebol mais eficiente, mas não é reflexo do povo."
Marcos Mion engrossa o coro. "Essa história toda do Marrom com o Dunga é tudo uma brincadeira. Se o Dunga tivesse um pouco mais de leveza para rir, a população ia abraçar muito mais a seleção", diz o apresentador. "Botar uma muralha entre o povo e a seleção não é uma coisa positiva."
Onde ver: Globo, Band, Bandsports e os canais da SporTV e da ESPN transmitirão os 64 jogos da Copa -na Globo, 8 deles serão relegados à condição de compacto por coincidirem com outras partidas no horário. Quem prefere esgotar todas as teses até o último lance, há de se deliciar com mesas redondas ditas convencionais em todos os canais. Até a Gazeta, que não estará em campo, escalou Ronnie Von para comentar o tema.
PIADA PRONTA
"Um time como a Argentina, liderado por Maradona, é uma quadrilha"
Marco Bianchi
"Com certeza, o jogo de âncoras Argentina X Grécia, países que afundam seus continentes"
Felipe Andreoli
"O time ‘reserva’ que o Dunga escalou: reserva só é bom se estivermos falando de vinho"
Marcos Mion
Fonte: Estadão.com.br
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